60 ANOS DO MUSEU PAULISTA DE ANTIGUIDADES MECÂNICAS – ROBERTO LEE
Todos os artigos tem como propósito divulgar e relatar nossas experiências.
No dia 21 de outubro, bem cedo, um sábado nublado e por isso mesmo muito bom para pegar uma estrada, eu e Lou (minha esposa) partimos a caminho de Caçapava. Desta vez o Rapha não pode ir, por um motivo bem plausível, ele estava de mudança do pequeno apartamento para uma casa provida de mais espaço para o novo membro da família, um filhote de dogue alemão, que pode chegar aos 70Kg antes de completar um ano!
O caminho escolhido foi a nostálgica rodovia Presidente Dutra, com direito a uma parada para comer uma pamonha. Infelizmente não dei sorte e ela não estava tão boa, já a escolha da Lou foi por um curau e acabou se dando melhor.
Aproveitando a proximidade de Caçapava à Aparecida do Norte, conciliamos a ida ao museu à nossa visita mensal ao santuário, sendo assim, reservamos uma diária em um hotel de Caçapava, para seguir no dia seguinte até Aparecida.
Antes das onze da manhã, estacionávamos a Belina no gramado junto ao museu, reservado aos carros antigos cadastrados para o evento e surpreendentemente a Belina seria a única pertencente à família Corcel e derivados que avistamos naquele sábado, dando a ela um toque de exclusividade.
Chegamos ainda no momento em que a prefeita da cidade fazia a abertura oficial do museu e minutos depois pudemos entrar para conhecer o acervo, composto ainda por diversos exemplares sem restauração, que ajudavam a contar a difícil história da coleção, até chegar à nova casa.
O museu completa em 2023, 60 anos. No auge de seu funcionamento recebia em torno de 250 visitantes semanalmente. Roberto Lee dividia seu
tempo entre seus compromissos em São Paulo, viagens ao exterior e vindas a Caçapava, pois fazia questão de cuidar pessoalmente de seus carros.
Em 1975, após seu falecimento, o museu passou para os cuidados de seu pai, Fernando Lee, e permaneceu ainda instalado na Fazenda Esperança. Em 1982, o acervo foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo, com o intuito de manter a sua conservação.
Com o falecimento de seu pai, em 1993, o museu acabou sendo efetivamente fechado. Por essa razão, infelizmente, perdeu uma parte de seu acervo. Muitos carros foram resgatados por seus originais donos, que haviam cedidos os veículos em regime de comodato para que ficassem em exposição no museu. O restante acabou sendo abandonado no galpão, que era invadido com frequência sofrendo ações do tempo, de vandalismo e até mesmo tendo peças furtadas.
Já em 2009, foram iniciadas negociações para doação do acervo para o município de Caçapava, através do conselheiro do CONDEPHAAT, Dr. Ricardo Yamazaki, e do diretor da FBVA, Dr. Eugênio de Camargo Leite.
A partir de 2011 o município passou a ser, de modo efetivo, responsável pela coleção do museu. Com isso, o acervo foi transferido para exposição no Centro Educacional, Cultural e Esportivo José Francisco Natali, sede da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, onde permanece até hoje.
Trecho extraído do site oficial do museu Roberto Lee
Duas salas abrigavam os exemplares da coleção e uma terceira sala um grupo de carros antigos selecionados, além de um planador e uma motocicleta Honda CG 125 dos anos 1980, lembrando que o museu abriga além de carros, outros tipos de veículos.
Sem dúvida o “carro chefe” da coleção é o Tucker Torpedo-1948-1035, carro de origem americana que ganhou até um filme de longa metragem em função de sua conturbada história nos Estados Unidos. Raro no mundo todo é única unidade a ter chegado ao solo brasileiro. Conturbada também foi a história desta unidade, toda registrada em painéis que cercam o carro e agregam ainda mais valor ao “Tucker Brasileiro” que ganhou até um monumento na entrada da cidade, eleita a capital do antigomobilismo.
Diante de vários Cadilllac, Packard e Alfa Romeo, entre as décadas de 1920 e 1950 que ocupavam o espaço do primeiro salão, um Maverick 1973, inteiramente restaurado se destacava, mas apesar de sua atual cotação no mercado brasileiro o posicionar como um carro valioso, nem de longe o aproxima da cotação dos colegas de recinto, porém a história que viveu justifica sua posição e também os vários painéis que contam a sua epopeia durante o 1º Raid da Integração Nacional, história que merece um artigo exclusivo. Uma pena não estar acompanhado de seus dois companheiros desta grande aventura, uma Belina e um Corcel, que se perderam no tempo, mas antes da lamentação, fica o mérito do Maverick ter sido mantido e apesar de tudo o que sofreu debaixo dos antigos abrigos, estar hoje tão bem restaurado.
Diferentemente dos museus que já conhecemos, a grande maioria dos veículos expostos não estão restaurados, pelo motivo dito no início do texto, o que o torna ainda mais exclusivo. Soubemos que alguns carros aguardam parcerias em sua restauração, mas sinceramente esperamos que pelo menos os mais significativos permaneçam como estão, uma vez que suas cicatrizes e adaptações ajudam a contar pelo que passaram e removê-las seria como apagar suas histórias, portanto devem ser admirados assim, como estão.
Além da informação cultural que toda visita a museus permite, muitos outros benefícios paralelos acabam por ser a melhor parte, como o prazer de percorrer mais de 400Km (ida e volta) de uma de minhas estradas prediletas, apesar de tão antiga quanto o carro que utilizamos e talvez o prazer venha justamente desta correspondência temporal, o encontro com os amigos, como o Marcos e sua esposa que vieram exclusivamente de Taubaté para nos encontrar e também conhecer a Belina que acompanhou a restauração pela internet, enfim todo o conjunto é muito agradável e a conclusão é que o carro antigo foi o grande catalizador de tudo isso.
Agora é esperar que novos museus, surjam, para poder repetir a receita e viver mais uma história como essa e tudo indica que não vamos precisar esperar muito. Corre a notícia de que uma outra grande coleção já está se instalando em um novo endereço, em uma outra cidade, distante algumas centenas de quilômetros de SP.......,mas isso já é assunto para um novo artigo que teremos o prazer de compartilhar com vocês.
Wagner Coronado