TEM QUE DEIXAR A CHAVE?
Todos os artigos tem como propósito divulgar e relatar nossas experiências de convívio com carros antigos.
Vou iniciar esse artigo com uma lembrança não tão boa, mas que vale a pena ser relatada, já que muitos de nós devemos ter passado por uma experiência semelhante. Essa é uma dificuldade que nós encontramos ao ter veículos diferentes ou carros antigos...(já ouvimos que carros fabricados em 2012 já eram antigos....então o fato ocorrido com o veículo que vamos relatar, produzido em 1996 é BEM antigo!).
Sempre que vamos sair e não sabemos exatamente o destino ou não temos a opção de estacionar o nosso próprio veículo e ficar com a chave, sempre é encarado como grande problema por todos nós.
Bem, era uma quinta-feira, quando eu necessariamente tinha que levar os meus avós para realizar um exame. A clínica não era tão longe da nossa residência e ficava no bairro da Lapa, na zona Oeste de São Paulo, então logo pela manhã fui buscar meus avós, com um bom tempo de antecedência, até esse momento eu estava tranquilo por estar levando meus avós em um carro grande, confortável e equipado com ar condicionado, este carro era um Chevrolet Omega.
Eu estava muito tranquilo, porque sabia que na porta dessa clínica existiam algumas vagas, então era simplesmente parar o carro ali em frente e ficar de olho de dentro da clínica.
No caminho pegamos um pouco de trânsito, mas isso já era de se esperar. Quando eu fui me aproximando da clínica ( lembro como se fosse hoje) existia um semáforo, então pude notar que a frente da clínica estava lotada de carros e não havia mais vagas... Aqui começa a minha preocupação, não com o preço do estacionamento, mas sim se ele estava cheio. Existiam dois estacionamentos logo à frente da clínica, me preocupei em dar conforto para os meus avós e coloquei no primeiro estacionamento, o mais próximo da clínica. Quando entrei naquele galpão escuro e lotado de carros, já imaginei o que estaria por vir.
O manobrista já ao meu lado esperando para pegar as chaves, mas antes de sair do carro perguntei se eu poderia estacionar em alguma vaga (isso poderia acontecer, iria ser uma maravilha... ele poderia tirar algum carro para eu colocar o meu no lugar), mas infelizmente ele pediu para deixar as chaves que ele mesmo estacionaria, como se isso fosse uma grande vantagem.
Nesse momento comecei a me preocupar bastante, mas não tinha outro jeito, tinha que deixar o carro com ele. Deixei as chaves e ele logo me perguntou se o carro tinha algum “segredinho” (foi exatamente a expressão utilizada por ele). No momento não entendi, porque ele não perguntava isso para os donos dos carros novos...? Bom, simplesmente balancei a cabeça, falando que não tinha segredo algum.
Então saímos do estacionamento, atravessamos a rua e esperamos um pouco na calçada, já que meu avô era fumante, então óbvio que ele iria acender um cigarro. Fiquei esperando ao lado dele e em menos de 5 minutos o mesmo manobrista apareceu atravessando a rua e falando que o carro não pegava....
Naquele exato momento eu não entendi muito bem o que ele estava querendo dizer, pois nunca tive qualquer problema na partida do Omega. Atravessei a rua, nem acreditando o que estava acontecendo, fui até o estacionamento, entrei no carro, virei a chave para dar a partida e realmente nada acontecia. Só acendiam as luzes do painel e ele não acionava o motor de partida... tentei várias vezes, perguntei se ele havia feito alguma coisa, já que isso não era nem um pouco normal e ele disse que só havia entrado no carro e virado a chave!
Pensei comigo mesmo “e agora, o que eu faço?” A consulta não iria demorar muito tempo... e eu tinha que levar meus avós de volta. Saí do estacionamento, fui até os meus avós pensando que eu poderia esperar algum tempo e caso fosse um componente elétrico, poderia ser o calor que estava afetando e com o tempo ele poderia voltar a funcionar, lembrando que o dia estava muito quente e pegamos bastante trânsito até lá.
Lembro na ocasião, que eu tinha o arquivo do manual do carro no celular, isso serviu para revisar e lembrar da parte elétrica como os relés da ignição. Eu poderia verificar no estacionamento e isso poderia ser uma solução.
Nisso passou o horário da consulta e voltamos ao estacionamento. Sinceramente algo me dizia que não era por causa do calor, ainda assim, tentamos dar a partida, e outra vez, nada.... Verifiquei os relês de ignição e tudo estava funcionando perfeitamente, então naquele momento a única alternativa era tirar o motor de partida e verificar o mesmo, ou simplesmente tentar fazer o carro pegar no “tranco”, o que não é uma coisa que gostamos de fazer (já que esse procedimento força diversos componentes, ainda mais num espaço tão pequeno como aquele estacionamento), mas se essa era a única escapatória, então vamos em frente. Naquele momento o manobrista chamou um colega, o um pipoqueiro que fazia ponto ale perto (lembro muito bem que era um pipoqueiro, pois suas mãos estavam com o óleo da pipoca que me deu um baita trabalho para remover da pintura), mas ajudou a empurrar o carro de ré no estacionamento, porque não havia outro espaço para fazer a manobra.
A "sorte" é que o carro estava bom de partida ( "sorte" = manutenção em dia). Estava com bomba de combustível nova, bobina nova, as velas novas, então a ignição foi bem facilitada para realizar essa partida de emergência. Neste momento foi tudo muito rápido, eles empurraram o carro, eu dentro virando a chave de ignição e soltando o pé da embreagem, até que no primeiro ciclo do motor ele deu a partida.... Mas que sensação de alívio! Depois disso é claro tive que pagar o estacionamento (como todos os nossos casos de estacionamento, nunca o estacionamento foi o culpado...) então tive que pagar e ainda sair com o carro com um defeito misterioso. Bem, saímos de lá o mais rápido possível, pegamos um pouco de trânsito e tive muito medo de deixar o carro morrer durante o trajeto, sem ter a certeza que o problema era apenas para acionar o motor.
Mas o carro não apresentou nenhum outro problema, a não ser a partida. Deixei meus avós na casa deles, e vim direto para a oficina.
Agora estava muito mais tranquilo para investigar o defeito, mas ainda tinha um bicho papão na minha cabeça, dizendo: - qual o defeito será que eu vou encontrar?
Desliguei o carro novamente e ele não acionou mais a partida, como aconteceu no estacionamento, no mesmo dia já verifiquei toda a fiação, uma verificação com bem mais paciência do que no estacionamento. Logo depois, sem encontrar defeitos, levantei o carro e o coloquei sobre os cavaletes. Essa é uma parte difícil na linha Omega, infelizmente o motor de partida é um grande problema para ser removido, ele fica abaixo do coletor de admissão, muito próximo das mangueiras do arrefecimento, então para chegar perto dele existe uma certa dificuldade, mas com paciência e tempo consegui remover e desmontar.
Quando desmontei o motor de partida, revisei todas as peças, boa parte do conjunto ainda era original do carro, mas ao ver as escovas reparei que haviam sido trocadas e refeitas as soldas (de uma forma bem ruim, com as soldas com um aspecto bem feio), ao invés de trocar o porta-escovas por completo... Bem, adquiri um novo porta-escovas, montei todo o conjunto e ainda por cima tive que desvendar um outro mistério na montagem daquele motor de partida. Eu o montava no carro e ele não dava a partida, tirava, funcionava de uma forma estranha na bancada e assim desmontei e montei várias vezes, até localizar um problema de mau contato do motor, que era isolado de uma peça de plástico que tinha uma exata posição de montagem.
Esse problemão me custou três dias de trabalho, mas consegui enfim funcionar todo o sistema corretamente.
Essa foi minha primeira experiência com manobrista com o meu Omega, que teve dificuldade em apenas ligar um carro um pouco diferente (lembrando que Omega é um carro injetado, portanto dar a partida deveria ser algo bem simples...).
Aqui fica a pergunta, será que ele teve a sorte de pegar aquele componente que estava na eminência de dar problema ou o defeito teve origem na falta de cuidado ao dar a partida?
Espero que vocês tenham gostado desse relato, ele representa a nossa preocupação em deixar o nosso antigo com pessoas que não entendem que aquilo não é um simples objeto, mas um bem muito querido por nós.
Até a próxima pessoal